Renda de Bilros
Arquivo fotografico de Lisboa, Trabalhos de renda de bilros 1908
Benoliel, Joshua 1873-1932
PT/AMLSB/JBN/002380
É nesse emaranhado de fios que se cruzam de forma quase hipnótica que me perco, num quadro lindo que conta histórias. Não conhecida a história exata da renda de Bilros, pode até admitir-se que os Fenícios puderam ter sido agentes divulgadores das rendas através das suas trocas comerciais ao longo da costa marítima portuguesas. Por outro lado há quem aponte para a chegada ao nosso pais através das trocas e contactos com a Europa de Norte, pois esta arte surge nos principais portos sendo um dos mais famosos o de Bruges.
Arquivo fotografico de Lisboa, Trabalhos de renda de bilros
PT/AMLSB/ACU/002441
É um trabalho minucioso e que requer habilidade, perícia e paciência. Consiste no cruzamento sucessivo de fios têxteis, obedecendo a regras de execução tais como: a execução sobre um pique e com a ajuda de alfinetes e de bilros. Especificando: o pique é um cartão, na maior parte das vezes pintado de cor de açafrão para facilitar a visão por parte de quem executa, nele se decalcam os desenhos realizados por especialistas e cuja origem está na criatividade e inspiração da autora, muitas vezes inspirados em objetos naturais como flores ou animais.
Os alfinetes servem para fixar o trabalho ao pique e são colocados em furos estrategicamente efetuados no desenho de base. O bilro é fabricado em madeira e tem a forma de uma pêra embora mais alongada onde por sua vez é enrolada a linha (fio têxtil) que vai sendo descarregada à medida que o trabalho vai ganhando forma. Faz parte ainda da sua execução uma almofada cilíndrica onde é fixado o pique que esta fixado sobre um banco de madeira e cuja forma permite a facilidade de rotação e alteração de posição permitindo uma posição confortável à executante.
Foto: Margareth
A primeira vez que se falou na palavra renda por cá foi no reinado de D. Sebastião em 1560. No reinado de D. João V assistisse no nosso pais a uma proliferação de rendas cuja origem é a Flandres, pois o protocolo da corte obrigava ao uso de rendas flamengas. Essa situação prejudicou o desenvolvimento nacional e surgiram revoltas por parte das rendeiras do norte do pais que fizeram chegar o seu protesto ao rei através da vila-condense Joana Maria de Jesus que consegui permissão para o uso das rendas em lenços, lençóis, toalhas e enxoval de casa continuando proibido o seu uso pessoal. Por fim em 1751 as rendas foram libertadas no reinado de D. José e desde então passaram a ser usadas na roupa branca de uso das pessoas e da casa.
O paralelismo entre redes e rendas, esta sempre presente e Peniche é o exemplo disso assim como o foram muitas populações do litoral onde a atividade piscatória se pratica ou praticava. Em Peniche atesta a história que esta arte se faz desde o século XVIII.
A originalidade das rendas de Peniche e o facto de passarem a ser elaboradas com fios mais finos valeu-lhe a atribuição de prémios em eventos internacionais em alturas insuspeitas: 1851(Paris e Londres), 1857 e 1861 (Porto), 1872 (Viana de Áustria) e 1878 (Paris).
As rendas de Peniche ganharam tal visibilidade que quase todas as rendas portuguesas eram conhecidas por rendas de Peniche e em meados do século XIX existiam certa de mil rendilheiras em Peniche e oito oficinas onde as crianças com mais de quatro anos se iniciavam nestas matérias.
Escola de Rendinheira Rainha D. Maria Pia, Peniche 1887
Uma das mulheres que mais contribuiu para o desenvolvimento das rendas em Peniche foi D. Maria Augusta Bordalo Pinheiro que exerceu a função de diretora da escola industrial D. Maria Pia, que mais tarde passo a Escola Josefa de Óbidos que posteriormente foi denominada de Escola Industrial de Peniche e mais tarde a sua atividade passou a integrar a Escola Secundária de Peniche, infelizmente hoje em dia nada tem de rendas.
Oficina de Rendas da Escola Industrial Josefa de Óbidos de Peniche dec. de 30 - Séc. XX
Ao mesmo tempo destas escolas funcionava a Casa de Trabalhos das Filhas dos Pescadores que estava na dependência da casa dos pescadores, só mais tarde em 1987 a Câmara Municipal de Peniche abre uma Escola de Rendas que pode ser frequentada por adultos e crianças. Existe também em Peniche uma associação Peniche – Rendibilros e os Artesãos de Santa Maria da responsabilidade da Paroquia.
Oficina de Rendas da Casa de Trabalho das Filhas dos Pescadores década de 40 - Séc. XX
Períodos de crise como a extinção da disciplina optativa do ensino secundário, mas novos horizontes surgiram e a verdade é que a tradição mantém-se até aos dias que correm e anualmente no terceiro Domingo de Julho celebrasse o dia da Rendilheira, atualmente inserido na programação da semana da Rendilheira. São exibidos trabalhos, realizados concursos e uma mostra variada de trabalhos sai para as ruas e Jardins de Peniche. Algumas das características que distinguem as Rendas de Peniche é o facto das Rendilheiras trabalharem com as palmas das mãos voltadas para cima e outra característica é o facto das rendas não se diferencial o direito do avesso.
Alguns exemplos de trabalhos:
Em Vila do Conde em 1991 foi inaugurado o Museu das Rendas de Bilros, lá podemos passar por uma viagem histórica a esta arte e apreciar uma grande variedade de trabalhos.
Museu das Rendas
Casa do Vinhal
Rua de S. Bento, 70
4481-781 Vila do Conde
252 248 400 / 252 248 470
Segunda a sexta-feira 10h00-12h00 / 14h00-18h00
Fonte
"Peniche na história e na lenda", de Dr. Mariano Calado
"Bordados e rendas de Portugal", de Dr. Manuel Maria de Sousa Calvet de Magalhães
http://www.memoriaportuguesa.com/rendas-de-bilros-de-peniche
http://rendas-de-peniche.blogspot.com
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