A Páscoa em Castelo de Vide

Sinagoga de Castelo de Vide numa série filatélica lançada pelos CTT em 2010

São ruas estreitas que nas ombreiras das portas têm “tatuados” segredos cujo o tempo não apagou, que jamais apagara e a fonte da vila é ainda hoje uma memória viva de tempos idos em que cristãos e judeus viviam em comunidade, num clima singular de tolerância que deu origem a usos e costumes únicos e particulares no mundo.
Essa carga histórica de tolerância deu origem em Castelo de Vide a uma fusão de cultura e religião que de acordo com muitos investigadores, é única.
A semana da Páscoa é a evidência desta particular e singular mistura e sincretismo cultural.
A Páscoa em Castelo de Vide é a fusão de tradições que consta na rota do Judaísmo como um marco incontornável, atrai todos os anos centenas de visitantes de todo o mundo e é uma referência mundial. D. Afonso IV deu autorização aos Judeus portugueses para terem o seu local de Culto pedindo apenas discrição e assim foi, num clima de tolerância até aos dias de hoje mesmo com o tormento em tempos idos da inquisição.

Quando e porque chegaram os Judeus a Castelo de Vide

Foi em 1492 que os Reis cristãos em Espanha expulsaram os judeus do território, muitos dos expulsos escolheram cidades fronteiriças do Norte Alentejano, onde já desde o século III existiam comunidades judaicas. Castelo de Vide foi uma das mais importantes comunidades da altura, muitos judeus aproveitaram a sua proximidade com Espanha e encaram-na como uma oportunidade para continuar a praticar a sua atividade comercial.
Em 1496, as negociações entre a coroa Portuguesa e a coroa Castelhana afim da realização do casamento de D. Manuel com a Princesa D. Isabel, obedece à ordem régia que obriga a expulsar do território todos os judeus. Aqueles que ficaram foram forçados a negar as suas raízes religiosas e consequentemente a converterem-se ao cristianismo. Depois desse momento muitas foram as formas que os intitulados cristãos-novos arranjaram para ocultar as suas crenças religiosas, dissimulando os seus rituais com as crenças cristãs.
A comunidade judaica que se instalou em Castelo de Vide deixou marcas na população que são muito mais do que a judiaria e a sinagoga. Encontramo-las nos mais diversos momentos desde gastronómicos a festejos da Páscoa ou mesmo nos nomes das famílias locais.

A matança do cordeiro e a refeição da Páscoa 

A partir do pôr-do-sol de sexta-feira entra-se no Sabat, e sábado os judeus entram em período de reflexão e não fazem nada, tradição que todos os judeus crentes e praticantes respeitam.
Alguns fazem a matança no sábado após a tradicional bênção dos cordeiros que se realiza em frente à Igreja Matriz.
O povo hebraico só come dos animais as partes que são consideradas puras, isto é as partes mais nobres. Excluindo o sangue e as vísceras do animal da sua alimentação. Após a conversão forçada a que foram sujeitos e a criação da Inquisição, os denominados cristãos-novos deixaram de poder matar os animais por degola (corte realizado no pescoço), passaram a ter de aparar o sangue ao invez de o deitarem fora como faziam e passaram também a consumir obrigatoriamente as vísceras do animal. Essa mudança de atitude foi implementada para fugir ao controle apertado da Inquisição. 

Porém os cristãos-novos inventaram novas maneiras de se protegerem da impureza dos animais, tais como a lavagem das tripas dos animais com cal branca e após o sangue coalhar traçavam nele uma cruz fervendo-o logo a seguir. Dai nasce o cachafrito que é confecionado em dois tachos que estão lado a lado; num ferve-se a carne para logo a seguir se fritar.

São ainda conhecidos os molhinhos com tomatada, mais uma vez as partes menos puras, as tripas do animal, desta vez atados em pequenos molhos com molho de tomate, mas estas tripas só são usadas depois de lavadas com cal. Neste dia só é servido o cordeiro, nenhuma outra carne é permitida. No Domingo de Páscoa come-se o Sarapatel que é feito a partir das partes do cordeiro que os judeus se recusavam a comer na sua religião de origem. Na sua confeção é usado o sangue do animal devidamente escaldado, pão, laranjas e as vísceras do cordeiro. A tradição mantém-se desde o século XVI.
Os bolos da Páscoa, o folar, o bolo finto, as queijadas, as boleimas e os bolos da massa. O bolo da massa é o Pão Ázimo, os pães que os judeus comem durante a Páscoa em memória da fuga de Israel.
Segundo a história o povo Judeu fugiu da escravidão tão à pressa que não tiveram tempo para deixar o pão levedar, por isso o Pão Ázimo não leva fermento, está interdito aos judeus durante a época da Páscoa. O Bolo Finto e o Folar têm aqui uma forma de cruz ou Lagarto.



Celebrações pascais 
No sábado à noite realiza-se a cerimónia Litúrgica da Aleluia. As pessoas dirigem-se até à igreja levando consigo um chocalho escondido nas roupas. Noutro ponto do país as pessoas dizem que vão à Homilia Pascal ou à Absolvição de Cristo, porém em Castelo de Vide diz-se que se vai ver aparecer a Aleluia.
No momento que o Pároco anuncia a Aleluia, cada pessoa toca o seu chocalho causando uma grande alarido. O cortejo sai pelas ruas da vila e a noite acaba na casa das pessoas, com a família e amigos para comer os doces tradicionais. No Domingo de Páscoa tem lugar uma procissão diferente de todas as que se fazem por esta altura. É organizada pela Câmara Municipal e não pela paróquia, que participa apenas como convidada. Não existem andores ou imagens religiosas e a Igreja aparece representada pelo Pároco que transporta um rosário.
É mais uma celebração pagã do que religiosa.
A Páscoa é o momento mais celebrado do ano em Castelo de Vide.
Também para os judeus a Páscoa é o momento mais marcante e respeitado.


Fonte: 
http://www.esep.pt
http://www.cm-castelo-vide.pt/igrejas_8.htm 
http://noticiasdecastelodevide.blogspot.pt
http://museuartesacracastelodevide.com/

Museu da Sinagoga em Castelo de Cide
Núcleo Museológico da Sinagoga 
Rua da Judiaria
7320
Castelo de Vide
    Telefone: +351(245)901361
    Fax: +351(245)901827




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